sexta-feira, setembro 29, 2006

Destroços

I
"Sentes esta brisa?
Sabes que estrela é aquela?
Que a alegria é indivisa?
Já viste como a ponte é bela?

Shh, vamos ouvir o mar...
Shh, não é uma raposa?
Shh, não vamos falar
Enquanto o coração repousa.

Está tudo bem contigo?
Posso usar o teu ombro?
Queres mesmo estar comigo

A essa hora, tão matinal?"
Sabes, ainda me ensombro
Com esse teu leque de trivial.

II

Ainda guardo a simplicidade,
Que me ensinaste a usar
Sem negar à objectividade,
Foste sempre espectacular.

Visitei pensamentos e locais
Que inóspitos os imaginava,
Mostraste-me o que havia mais
Além. E a minha mente pensava.

Desenvolvi recursos pessoais,
Muito mais do que físicos
Mas acima de tudo, mentais.

Dizer que nunca foi nada
São meros pensamentos tísicos,
Perdão se a mente está errada!

" Após a queda do avião que nos põe nos céus, destroços encarcerados num eterno chão, são tudo o que sobra. Nunca ninguém reconstruiu nenhum avião meramente dos destroços descobertos, mas ainda quero abrir a caixa negra e descobrir a razão a queda, se é que a houve"

(este é mesmo encriptado)

quarta-feira, setembro 20, 2006

Um minuto

Na fluência de um minuto
São dados mil beijos,
Numa eternidade os escuto,
Formulam-se mil desejos.

Num minuto silencioso
Mil abraços são amarrados,
Diz-se dum segredo amoroso
E outros tantos revelados.

Em sessenta segundos
Se dá comer ao sem-abrigo,
E de alegria fecundos,
Saúdam-se, um novo amigo...

Num minuto crepitante
Uma bomba faz-se explodir,
Ou firma-se um aliciante
Contrato para se extorquir

Capital ao pobre povo,
Megatoneladas de impurezas
Poluem de novo e de novo
A Natureza e suas riquezas.

Uma hora seguida destes últimos minutos destroem a Humanidade, uma hora seguida dos minutos de beijos, abraços, amizades, preocupações socias, só uma hora dessas, contínua e sem interrupções para notícias dolorosas, construiria um novo Mundo. Temos o poder de alterar um minuto no Mundo, mas muitos querem alterar o Mundo num minuto.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Um brinde à relação perfeita ...

Ela ligou para ele e marcou um encontro,
Ele lá apareceu moreno, olhos azuis, uma data de músculos, com um andar seguro, cheio de prosápia, BMW Z4 e um anel de brilhantes no bolso para oferecer à sua donzela, lá estava ela, também.
Marcara encontro no restaurante mais fino das redondezas, loira, olhos verdes um vestido de gala, branco, desvendando um precioso colar de pérolas cobrindo a envolvência de seus seios, no meio de um decote arriscado, de perna bronzeada e cruzada, esperava a sua companhia.
Cumprimentaram-se com um beijo lento, suave, calmo, com o mesmo fôlego de sempre, abraçaram-se, ele disse "Eu Amo-te", "És a minha vida" ela correspondeu, sentaram-se.
Ele queixava-se que se encontrava um pouco cansado do trabalho, mas que estava disposto a ir até ao fim do Mundo com ela, por muito distante e cansativa que a viagem fosse. Ela, compreensiva, voz ténue e baixa, falava-lhe com calma e dizia-lhe que não precisava do fim do Mundo, a voz dele era-lhe suficiente.
Depois do mais requintado jantar, e após ela pagar a conta e ele sorrir e agradecer, juntaram-se na piscina da mansão dela, fizeram amor loucamente, trocaram carícias, elogios, beijaram-se toda a noite.
Casaram-se, tiveram dois filhos, um casal, gémeos, tal como sempre tiveram desejado, lindos de morrer ela participou em vários desfiles da Victoria's Secret, ele virou actor e era o galã dos Óscares, todos os anos.
Envelheceram e morreram no mesmo dia e à mesma hora, com um sorriso nos lábios, foram os únicos amantes um do outro, durante toda a vida.

Tudo perfeito e brilhante, como quando vou à internet roubar batotas àquele jogo que não consigo terminar. Quando morrer não preciso de saber que vivi o Amor perfeito, se souber algo após a minha morte, quero apenas saber que lutei por ele e aprendi com cada erro que cometi e com cada erro que me cometeram. Infelizmente o Amor só é feliz enquanto dura, quando cessa arde no peito com a força de mil tochas. Felizmente o Amor ensina e, de amor em amor, o Amor será aperfeiçoado... um brinde ao amor, a relação perfeita fica para outra altura.

sexta-feira, setembro 08, 2006

O último passo

Vejo a vida como montanha,
Em determinados aspectos,
Comprometo-me a uma façanha
E avanço os prospectos.

Tudo encaminhado e correcto
Ao longo dos primeiros passos,
Levo uma vantagem de concreto
E impressiono sem impassos.

Parece que já escalei metade,
O caminho mais árduo está feito,
Sem presunção ou veleidade.

Continuo e quase atinjo o pico,
Ganho posição e mais respeito,
Adquiro-o por quem me sacrifico,

II

Com prazer, sem esperar retorno.
O Cume é já ali, estou perto,
Porém penso no transtorno
De alcançar aquilo que é certo.

Sinto meus olhos se voltando
Aos poucos, do almejado cume,
Sinto-os fracos e indagando,
Baixam e volta aquele costume.

Vou descendo, calmo e sem som,
Sozinho, com novos saberes,
Porém sem ter atingido o tom

Saudável do pico mais alto
Das pessoas e dos prazeres.
Vou esquecendo, nunca me exalto.

III

"A montanha, não tenho dificuldade em escalar, os obstáculos, todos sei contornar e subo tudo sem ter receios, mas no fim, no fim daqueles últimos metros, daqueles últimos passos, baixo os olhos e encaro a planície sem mais olhar o pico. Assim será, pelo menos para já, o que falta não sei, porém tudo o que tenho sei que para qualquer lugar me pode levar."
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