segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Com um novo rio

Acrescentei dois rios à Serra,
Pintei com pássaros a terra,
Comprei plantas e pintei-me.
Pus uma janela e escancarei-me.

Passeei pelos prados e lá fiquei,
Deslizei pelos rios e os saboreei,
Toquei nas rochas atiradas ao solo,
Abracei-as e pu-las no colo.

Segurei com veemência a realidade
E desejei que morresse só comigo,
Guardei-a num saco feito de saudade

E jurei que não a iria mais largar,
Mas a alegria não é como a digo
E a força, nas mãos, começa a falhar.

II

Escorreguei no tempo, mesmo agora,
O prado, com a queda, se foi embora,
Os rios secam com pungente celeridade,
O vento devora as plantas com severidade,

O meu passeio engoliu-me e às pedras,
As veias, as do sangue, ficaram-me vedras,
As do pensamento rejuvenescidas,
Mas um pouco mais enfraquecidas.

Não há passeios na realidade
Que não sejam pedregosos e macilentos,
São um pouco de toda a verdade

Que a beleza da vida comporta,
São profícuos, todavia, seus proventos,
Ao encerrar uma, a dor abre outra porta....

III

"- Então já fizeste a tua boa acção hoje?
- Arrumei um antigo passado na gaveta, tapei-o com um cobertor que comprei para esse propósito. De vez em quando vou lá espreitá-lo, hoje fui e deixei lá mais um pouco de passado, desta feita aconcheguei o de uma pessoa amiga. Achas que é uma boa acção? "
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