terça-feira, abril 26, 2005

Sintético

(...)Ao culminar da festa, um espírito aproximou-se de Sara e disse:
- Já pensaste porquê que és a única viva entre nós?
- Dou por mim várias vezes a fazer essa mesma questão....
- E já chegaste a alguma conclusão?
- Err... Acho que não. Esperava ouvi-la da vossa voz.
O Espírito soltou um suspiro jocoso e replicou.
- A tua presença aqui, deve-se ao medo que tu tens....
- Medo?! Que medo?!
- Esse receio de viver, que guardas em segredo.
A verdade é que morres um pouco sempre que aqui vens...
- E é por isso que me julgo morta no seio da sociedade?
- Não!!! Tu não estás morta, apenas distanciada.
E criaste-nos para te sentires reconfortada.
- Então nada de vocês tem alguma verdade?
Depois de abanar a cabeça, em sinal de negação, o espírito soltou uma lágrima seca
daqueles olhos negros e, com as mãos enroladas às de Sara, libertou a seguinte frase:
- Temos sim, só que o mundo lá fora não sabe.
É a verdade que apenas mostramos a quem acredita,
Que se associa à nossa existência inaudita,
Que não termina, nem mesmo que a tua acabe.
- Queres dizer que não sou a única que vos vê?
- Não, não és. Tomamos diferentes formas e feitios
E passeamos por vários intelectos vazios.
Se ao menos conhecesses alguém que em teu pensamento se revê!...
- Alguém que pense como eu? Mas eu estou sozinha....
E sem avisar, a festa teve um fim. Sara sentou-se na cama e, desafiando o ócio, puxou uma daquelas lâminas, respirou fundo, olhou para o tecto e disse:
- Meu Deus! Não deixe que a solidão me acompanhe até si...
Naquela mesma noite, a quilómetros da casa de Sara, um duende com três olhos dizia a Bernardo:
- Não, não sou o único duende.... (...)
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